A verdade, sem meias palavras, é que ele estava tenso. Não chegou ao prazer e confesso: - nem eu. Fizemos um amor cheio de dúvidas e apreensão. Para mim tudo havia acontecido da forma mais natural possível. Lucubrava se não teria sido minha ousadia a levá-lo àquele estado. Ele era nortista e todos sabem: - os nortistas são um povo conservador e persistentemente apegado a comportamentos menos ousados.
Fomos ao banho juntos. Eu o olhava de cima a baixo numa admiração frenética, e que a muito custo conseguia disfarçar. Seguramente meu olhar estava a denunciar como eu estava. Não saberia dizer se naquele momento sua timidez era circunstancial ou se seria uma característica dele. Ao falar de assunto técnico, como a doença de meu avô e todas as suas implicações terapêuticas, ele se mostrara bastante à vontade. O mesmo não poderia dizer agora.
Também pensei que ele estaria sendo afetado pelo mesmo embaraço que acometia os outros médicos que cuidavam de meu avô quando estavam em minha presença. Ou seria outra coisa. Ali, no banheiro sob a ducha, um turbilhão de pensamentos mesclava-se à minha quase perplexidade. Sua beleza sutil revelava-se cada vez mais, num extasiante crescente que prendia minha atenção de maneira que em nada conseguia pensar coerentemente. Tudo parecia muito rápido, mesmo para mim.
Pensava comigo: "Para que perder tempo com uma coisa que eu quero ter o mais rápido possível? Se quero esse homem para mim, devo têm-lo sem demora". E afinal de contas não fora tão direta assim. Vínhamos caminhando a esmo depois que o busquei no hospital e fiz o seguinte comentário: -"Olha, Antônio, eu estou exausta. Essa história da doença de vovô tem levado todos nós ao limite da estafa emocional, mental e física. Se morasse sozinha o levaria à minha casa, onde poderíamos ficar à vontade".
Ele respondeu sem o menor constrangimento: -"Sei de um lugar aqui perto onde podemos ficar bem à vontade e onde você poderá descansar um pouco se quiser..." Trouxe-me, então, a este motel onde há pouco tomávamos banho. Quem dirá ter sido eu quem sugeriu virmos para cá? Por isso falei que eu o convidei ao motel – lancei a isca e ele, como homem inteligente, mordeu de bom grado. Além do mais, não estou nem um pouco preocupada com o que dirão as pessoas. Desde ontem, quando o conheci, só existem no mundo ele e eu.
No hospital – morava no hospital – ele banhou-se novamente porque sentia asco. Pensou mil coisas a meu respeito, e até que eu seria uma garota de programa nas horas vagas. Para ele o sexo precoce denunciaria uma leviandade imperdoável e sintomática. Daquele momento em diante passou a me olhar de forma diferente quando me encontrava no hospital. Ele não sabia, mas eu estava apaixonada. Para ele, talvez pensasse, eu era uma garota doidinha que estava abalada por um problema familiar. Em suma, ele perdeu por mim sem nunca ter ganho o senso de valor.
Assim, passou a me evitar. Eu ligava e ele pedia aos amigos para dizer que não estava. Às vezes ele atendia o telefone e, não tendo como me despachar, inventava desculpas para não me ver. Eu lhe dizia que queria levá-lo a sair comigo e meus amigos e ele recusava. Queria levá-lo a uma boate, a um barzinho, para que conhecesse meus amigos mais chegados e era sempre a mesma coisa – negava-se a sair comigo.
Um dia, ao telefone, me falou com todos os efes e erres: -"Sou muito mais velho que você, menina. Isso não dá certo." E desligou na minha cara.
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