sábado, 6 de outubro de 2012

Namorados


          De fato, era dezessete anos mais velho do que eu. 
          Na minha cabeça isso não tinha a menor importância. Em minha família era comum casais com semelhante diferença de idade, e eu estava excitadíssima pelo fato de estar, de certa forma, contribuindo para manter aquilo que considerava uma marca da família. Meu avô doente, por exemplo, era dezesseis anos mais velho que minha avó. Hoje, passados mais de dez anos do início dessa história, percebo que não foi a diferença de idade a causa das dificuldades que viriam, mas minha completa imaturidade. 
           Antônio estava racionalizando. Não queria envolver-se comigo nem com ninguém. Parecia que algo o perturbava ao extremo. 
           Houve dias em que ia ao hospital para a visita na esperança de encontrá-lo, em vão. Lembro de ter feito comentários sobre como me parecia uma demonstração de descaso por parte de certos médicos se absterem de visitar seus pacientes em fins de semana somente por não terem sido escalados para tal. Era uma indireta; estava frustrada por estar senso rejeitada. 
                                                         ***
           Chegou o dia. 
           Doutor Vaz veio anunciar que o melhor a fazer por meu avô era, sem dúvida, a amputação de sua perna. Com alguma relutância acabamos por concordar e consentir. Tudo parecia ter sido feito na tentativa de avaliar qual a melhor opção e, infelizmente, essa se mostrou a melhor. Dois dias depois ele foi operado.
          A operação e os dias que se seguiram a ela foram tranqüilos. Não houve nenhuma complicação e ele recebeu alta sete dias depois. Não havia mais razão para eu voltar ao hospital, a não ser que Antônio e eu voltássemos a ser uma possibilidade. A mim me parecia cada vez mais difícil que isso acontecesse. Ligava algumas vezes para ele e conversávamos amenidades. Nem sobre o estado de saúde de meu avô após sua alta falava. Ele estava bem em sua nova realidade de mutilado e eu não queria que esse assunto se tornasse uma desculpa para ligar. Minha intenção era deixar claro que meu interesse por Antônio era genuíno e persistente. 
          Certo dia, ao telefone, falei-lhe com tanta ternura e tanto carinho que consegui convencê-lo a sair e me encontrar numa boate onde estaria com amigos. Desde então ele se permitiu estar comigo com uma freqüência cada vez maior. 
          Em suma, assumimos o namoro. Passamos a sair a sós ou com amigos sempre que ele estava de folga, ou eu ia à moradia do hospital ficar com ele. Eu não saberia explicar a razão de sua mudança, mas minha suave insistência deve ter tido algum papel no processo. Afinal foram vários dias desde nosso primeiro encontro até chegar em meu objetivo – tê-lo como meu homem. Minha paixão por ele era cada vez maior e voltei a pensar se ele não seria o homem de minha vida.

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